morder a vida com mais gosto
escrevo sempre, apesar de ter deixado de publicar aqui ou acolá.
e penso intensamente sobre como escrever a vida é um jeito de existir no mundo.
foi Contardo quem disse que narrar a própria vida é crucial para torná-la não só mais interessante, mas para transformá-la em algo que vale a pena aos nossos olhos.
dá mais sentido à vida tratar nosso cotidiano com a dimensão de uma história que vale a pena ser contada. nossa relação com o mundo passa a ter mais qualidade, e qualquer vida tem dignidade suficiente pra isso.
escrever de si é transformar a própria existência, tirar o chorinho de significado daquilo que vivemos.
ser sendo.
o outro é o feitiço do inesperado
verão em Paris, fim de tarde, turistas com a árdua tarefa de encontrar um bar não-turístico na cidade. Déviant, acertamos.
bonsoir bienvenue, olhos grandes e luzentes cor de mel, posturado, combo cabelo raspado + bigode, do jeito que o diabo (eu) gosta
‘let the wine dance in your mouth’ não posso ir embora sem o telefone dele
‘now, feel what's left in your throat, breathing out’ borboletas superlativas em queda livre no estômago, nico é dos melhores exemplares de safofo dessa cidade
‘amor da minha vida, desce um negroni à francesa?’ o negroni não as matou
‘can i get your number?’ fiquei tão surpresa quanto ele com meu ato repentino
nos despedimos na manhã seguinte com éclair, café e cigarro libaneses
dançar com o acaso
substantivo concreto — tem existência própria, não depende de outra coisa para existir no mundo real ou imaginário
‘i miss Paris’
‘Paris also misses you’
das coisas que Fernanda me fala
como minha analista, não deseja que as coisas passem a fazer sentido
‘lambuze-se’
fincar o pé no que sei sobre mim
desejo é falta
desejo do outro é sempre enigma
por isso, esvaziar o peso do outro
me dedico à análise porque a incerteza me é confortável
‘já pensou em estudar psicanálise?’
ela sabe que sim.
feliz em estar de volta. ♡
obrigada por ler o Confusa.
volto logo,
Jess
Demais 😻🧡