a palavra é a minha quarta dimensão ⦙
dezembro de 2020 marcou o centenário do nascimento de Clarice Lispector e pra comemorar, me dei de presente ‘Água Viva’. um livro pra ler sem pressa, cada frase traz um universo inteiro, a que deixei ali no título vem logo nas primeiras páginas.
o livro foi definido como "um denso e fluente poema em prosa", mas eu resumiria da seguinte forma: Clarice brisando (muito) sobre a vida. me senti dentro da cabeça dela, o que não poderia ser coisa simples.
no romance, a personagem se confunde com a autora e reflete junto de quem lê sobre sua relação com os pensamentos e o que vem antes deles, o tempo, os sonhos, o medo, o tudo e o nada. Clarice brinca com as palavras, é contraditória em sua escrita e achei isso incrivelmente libertador.
“Que mal porém tem eu me afastar da lógica?”
ela segue mesmo sem saber, encontra conforto na desordem. nem todas questões do mundo precisam ter soluções corretas e/ou adequadas.
penso que estar confusa sobre a vida ou sobre o mundo, é apenas o estado mental de uma pessoa adulta hoje. admitir pra nós mesmas que sabemos muito pouco sobre quase nada.
em sua última entrevista, Clarice diz que entender algo de verdade não é uma questão de inteligência, mas sim de sentir, de entrar em contato.
“Muitas vezes a minha chamada inteligência é tão pouca como se eu tivesse a mente cega. As pessoas que falam de minha inteligência estão na verdade confundindo inteligência com o que chamarei agora de sensibilidade inteligente. Esta, sim, várias vezes tive e tenho. E, apesar de admirar a inteligência pura, acho mais importante, para viver e entender os outros, essa sensibilidade inteligente.”
se quiser aguçar sua sensibilidade inteligente, veja esse vídeo do Chico Buarque recitando um trecho de ‘Água Viva’, não tem como dar ruim, é Chico + Clarice, poesia pura.
pra fechar o assunto, uma das muitas homenagens ao centenário foi o site que o IMS criou, com manuscritos, cartas, textos, fotos, áudios e vídeos sobre a vida de Clarice.
“Sua coragem é a de, não se conhecendo, no entanto prosseguir. É fatal não se conhecer, e não se conhecer exige coragem.”
. 'Garota, mulher, outras’ da Bernardine Evaristo foi meu livro preferido de 2020. o romance narra a história de 12 personagens vivendo experiências individuais numa sociedade patriarcal e estruturalmente racista. Bernardine consegue trazer leveza para assuntos complexos, é perfeito.
. maratonei a série Girls da HBO com uns 10 anos de atraso e já tô com saudade. alguém aqui já assistiu e lembra do episódio “American Bitch” da 6a temporada? obra prima.
. entrevista com Patti Smith no El País: “Acredito que a arte te aproxima do que as pessoas chamam de Deus. Como artista, busco revelações. Para mim, a arte é uma viagem de descobrimento.”
Sara-Vide Ericson, Ass Pillow (2018)
“existirmos: a que será que se destina?”
. esse showzin do Caetano foi um presente, deixei o play direto em ‘Cajuína’, uma das minhas preferidas dele. aliás, cê sabe a história por trás dessa música?
. eu tô amando a newsletter Semibreve, que reúne semanalmente uma curadoria de recomendações e notícias sobre o mundo da música.
. 10 discos memoráveis que completam 50 anos em 2021. eu. amo. os. anos. 70.
. playlist boa demaisssss pro chamego time.
. essa playlist do Caio Rosa — vale fuçar as outras lá no perfil dele no Spotify. Caio é DJ e fotógrafo, nessa matéria da Nataal dá pra conhecer mais do trabalho dele, que é bem foda.
. no podcast Vidas Negras, o jornalista Tiago Rogero analisa e entrelaça a trajetória e a obra de personalidades da história e da atualidade. imperdível.
Jarvis Boyland, Bluff (2019)
pra ver e ler ⦙
. lista da Revista 451 com os melhores livros publicados no Brasil em 2020.
. já viram High Fidelity (disponível na Amazon Prime Video) pra babar na Zoe Kravitz? ela tá demais e tá no topo da lista dos melhores atores a atrizes de 2020 do NYT.
. todo mundo já viu “AmarElo - É Tudo pra Ontem” na Netflix, né?! então tá. tem entrevista sobre o doc com o Emicida. trechinho aqui:
“É na cultura que temos o livro de história oficial do Brasil. Nossos livros de história foram os discos. Se você quiser conhecer o Rio de Janeiro dos anos 70, você precisa escutar o samba dos anos 70. Eles vão te contar, nas camadas da poesia, o modo de se viver nos morros e nas favelas cariocas. Você vai ter outra perspectiva além do que a gente chama de história oficial.”
. “A transformação é lenta, é dureza, é trabalho. Só você pode fazer.” Maria Homem, nessa entrevista da Revista Gama.
. eu não aguento mais a jovem mística e sou uma delas. se você também se sente assim, dois perfis perfeitos pra seguir no Instagram: @espiritualidademercantil e @a.vida.de.tina
obrigada por ler o Confusa e até a próxima edição.
Margaret C. Cook, Leaves of Grass (1913)