sobre a liberdade da solidão
a mulher do futuro, músicas pra ouvir de olhinhos fechados e links maravilhosos.
oie! bem-vinda(o) à mais uma edição do Confusa. se você curte esse conteúdo e quer indicar pra alguém, a hora é agora. :)
pra brisar ⦙
The Kitchen Table é uma série de fotografias e textos, realizada por Carrie Mae Weems. a artista se apresenta em diferentes cenas em torno da mesa de sua cozinha, com uma única fonte de luz — uma luminária suspensa — e explora a identidade, as experiências e os relacionamentos femininos. uma lente através da qual se pode ver a vida de uma mulher.
Carrie Mae Weems, The Kitchen Table Series (1990)
a artista se projeta nas imagens como um arquétipo do seu gênero, em momentos de solidão e diálogo interno, encontros e experiências compartilhadas.
pesquisando mais, descobri que a questão que norteou Weems durante a concepção da série foi: “Como as mulheres vão se imaginar daqui pra frente?” e com isso em mente, criou imagens que retratam uma jornada em direção a um santuário interno.
venho exercitando silenciar o mundo externo pra me ouvir e consequentemente refletindo sobre estar — e me sentir — só. criando meu santuário interno. essa série representa isso pra mim, lidar com a própria companhia, mesmo ao redor de pessoas e situações.
sinto que existe uma pressão social ao redor desse tema, uma crença de que sempre precisamos ‘fazer algo’ ou estar na companhia de alguém(ns). às vezes, parece que a gente só tá se distraindo de si com barulho externo. um dos meu maiores prazeres é estar acompanhada de pessoas que amo, fazendo o que for. mas a única companhia certeira, que permanece a vida toda, é aquela vozinha interna, você.
nesse rolê de me fazer santuário, tô aprendendo que me basto. não pra sempre, mas me basto em vários momentos. me sinto confortável em mim, gosto de me ouvir, de me entender e de brisar comigo mesma. a gente só precisa se dar espaço.
‘ninguém é livre se escondendo de si’
é uma frase que tenho anotada aqui, devo ter visto em algum canto que não me lembro mais. sei pouco sobre mim, sou abarrotada de incertezas (vide o nome desse boletim), mas me encaixo cada dia mais. me encaro, expando pra dentro e me permito maravilhar todos os dias com a vida — e comigo mesma.
em um dos textos que acompanham a série da Carrie Mae, seu companheiro pergunta: “So tell me baby, what do you know about this great big world of ours?”
“Not a damn thing, sugar” ela responde.
nem eu, Carrie. ♡
respeita as mina ⦙
Megan Jacobs, Equality Then & Now (2020)
. essa fotografia faz parte do Yellow Rose Project, onde mais de cem mulheres dos Estados Unidos foram convidadas a fazer um trabalho em resposta, reflexão e reação à ratificação da 19ª Emenda, que concedeu às mulheres dos EUA o direito ao voto, em 1920.
o site do projeto conta que, há 100 anos, mulheres usando rosas amarelas ficaram ombro a ombro no Tennessee, esperando a lista de chamada dos homens que votariam a favor ou contra o direito da mulher de fazer parte do processo democrático. o movimento concedeu direitos a algumas mulheres, e essa conquista por si só deve ser reconhecida e comemorada, mas a luta não terminou aí. só muito mais tarde todas as mulheres americanas, independentemente da raça, receberam o mesmo privilégio.
Yellow Rose Project é sobre o poder das mulheres de influenciar a percepção pública e a perseverança para continuar a luta por direitos iguais.
. já que começamos essa edição falando sobre a liberdade da solidão, preciso indicar o livro ‘Um quarto só seu’ da Virginia Woolf. em 1929, Virginia foi convidada para palestrar sobre o tema “As mulheres e a literatura” e depois de muita reflexão, chega à conclusão: “uma mulher, se quiser escrever literatura, precisa ter dinheiro e um quarto só seu". acabei de ler e fiquei completamente encantada.
. Praia dos Ossos é o melhor podcast que ouvi nos últimos tempos. trabalho da Rádio Novelo, com apresentação e idealização da Branca Vianna, que resgata a história de Ângela Diniz, assassinada por Doca Street, seu então companheiro, em 1976. ao longo do processo, Doca passou a ser visto como vítima do crime a partir da tese de legítima defesa da honra. conteúdo importante pra gente refletir sobre a liberdade das mulheres no Brasil de hoje, que não parece muito diferente da de 1976.
essa matéria da pesquisadora do projeto, Flora Thomson-DeVeaux, traz um resumo do caso.
. vamos falar sobre Lélia Gonzalez? conheci um pouco mais de sua história nessa matéria do El Pais. o livro recém lançado ‘Por um feminismo afro-latino-americano’, reúne em um só volume um panorama amplo da obra de Lélia e já tá na minha lista. tem bastante material produzido por ela disponível na internet, que é uma das figuras mais importantes na história das mulheres no Brasil. ‘RACISMO E SEXISMO NA CULTURA BRASILEIRA’ é um deles e você vai levar só 30 minutos do seu dia pra ler. de nada. :)
. a Maria Homem é psicanalista, pesquisadora e professora. os vídeos dela são muito esclarecedores — e às vezes complexos. mas quando ela fala, eu ouço. esse tá especial:
. o Cabíria Festival – Mulheres e Audiovisual é dedicado à produção realizada por mulheres e pessoas de identidades de gênero diversas para promover maior representatividade e diversidade nas telas e atrás das câmeras. de 18 a 29 de novembro, online e totalmente gratuito, com exibição de 35 filmes, 22 microfilmes, além dos encontros com debates, oficinas, masterclasses e painéis.
pra ouvir ⦙
. esse texto lindo da Danye Smith, sobre a trilha sonora de sua vida: Sade. (em inglês, se quiser ler em português, dá pra usar o tradutor automático do Google Chrome na própria página). eu amoooo Sade e essa foto tá demais, não tá?!
. dois episódios do podcast da 451, um com Emicida e outro com a Letrux.
outras coisas que tô ouvindo sem parar: Voodoo do D’Angelo, Kind of Blue do Miles Davis, PARTYMOBILE do PARTYNEXTDOOR, Aquemini do OutKast, essa playlist do Dimas Henkes para a marca branco, com uma seleção de bossa nova, mpb e sambinhas para iluminar o dia.
aliás, o Dimas faz uma newsletter bem massa chamada “Música em Casa”, com uma curadoria musical para decorar a semana.
por fim, tô construindo essa playlist chamada “pra ouvir de olhinhos fechados”. se tiver sugestões de músicas, vou adorar receber.
Jonathan Wateridge, (His) Long Day in the Sun (2020)
outros linkzinhos ⦙
. Como Byung-chul Han previu a positividade tóxica dos coaches e do bem estar
. dois ícones numa conversa sobre yoga (!), espiritualidade, exposição nas redes sociais e a vida no geral. Michaela Coel and Donald Glover have a lot to talk about (em inglês)
. um casal reuniu fotos de viagens que acidentalmente se parecem com as cenas dos filmes de Wes Anderson. o perfil no Instagram é um carinho pros olhos e virou até livro.
finalizo essa edição com o curta Hotel Chevalier, do Wes Anderson. 13 minutos de pura poesia.
obrigada por ler o Confusa. ♡
nos vemos na próxima edição, que será a última do ano.