pra brisar ⦙
me deparei com essa obra navegando por um especial bem completo do Google Arts e Culture sobre a vida e obra de Frida Kahlo:
Frida Kahlo, Árvore da esperança, mantém-te firme! (1946)
Frida passou por vários problemas de saúde e por um acidente trágico que lesionou gravemente sua coluna, essa obra foi feita depois de uma das sete cirurgias que ela fez só nessa parte do corpo. vemos uma Frida com a cicatriz da recente cirurgia sangrando e a outra aparentemente recuperada, essa não precisa mais do colete. sofrimento e esperança, luz e sombra.
me lembrou bem literalmente de um episódio da minha vida: durante um ano da minha adolescência usei um colete muito parecido com o da obra e aos 14 fiz uma cirurgia na coluna. descobri que tinha uma doença chamada escoliose idiopática. ‘ídiopática’ porque a medicina ainda não descobriu o que causa essa doença.
a grande maioria dos casos acontece em meninas adolescentes — bem louco — no estirão do crescimento. ao invés de crescer pra cima, a coluna entorna pra um dos lados ou para os dois, formando um S, que foi o meu caso.
usei o colete ortopédico pra tentar conter o desvio, mas meu caso era grave e o colete não deu conta, tive que fazer a cirurgia. duas hastes e alguns pregos foram inseridos ao longo da minha coluna, a cicatriz vai do início ao fim das costas. foi uma cirurgia agressiva mas bem sucedida, hoje eu tô 100%, inclusive amo minha cicatriz.
o processo todo me marcou profundamente, eu tinha 13 anos e minha coluna simplesmente ficava cada dia mais torta. durante um ano, 24 horas por dia, usei um negócio estranho, que me deixava estranha. era difícil olhar no espelho.
lembro do esforço constante em me afastar do lugar da vítima, quando alguém que não me conhecia perguntava com pena, o que era aquilo ou por que eu tinha que usar um colete ortopédico tão novinha, eu inventava histórias mirabolantes, sem pé nem cabeça.
hoje com 26, 13 anos depois, vejo quanto esse período me fez um ser humano melhor. acho que todas as pessoas desse mundão tem uma, ou várias histórias de episódios que, apesar das dores físicas e/ou emocionais, são fontes de aprendizado e transformação.
vários traços da minha personalidade hoje são resultado desse período e acho isso maravilhoso. escolher o que fazer com a dor pode nos moldar.
ao mesmo tempo, não acho que é só pelo caminho da dor que aprendemos e nos tornamos pessoas melhores. o caos e a ordem têm papeis fundamentais na nossa vida, tudo cresce. sempre.
pra ouvir ⦙
. esse álbum do Otis, do começo ao fim. são 33 minutos bem gastos, prometo.
. álbum novo do Sango, bãoooo demais pra rebolar o popô. as minhas preferidas: “Camisa do Senegal” com o niLL e a “Lanso a Braba” com o JX.
pra inspirar ⦙
Robinho Santana, Temporal (2020)
. o Programa Convida é um projeto de incentivo à criação artística durante período da quarentena. o IMS convida artistas que representam as diversidades de identidades presentes no Brasil – de raça, gênero, regionalidade, contexto social e cultural, para disponibilizar suas obras no site e nas redes sociais do Instituto. me demorei na página do Robinho Santana, entre suas pinturas e reflexões.
Ezra Smith, The Vulva Painting (2020)
. em 2019, o primeiro museu do mundo sobre a vagina foi inaugurado em Londres, com o objetivo de destruir estigmas e abrir um espaço pra discussão da saúde, anatomia e outras questões relacionadas às nossas maravilhosas vulvas. por conta da pandemia, logo após a inauguração, o museu precisou ser fechado.
pra ajudar a promover a reabertura do espaço, o museu se juntou com um grupo de publicitários pra lançar a campanha “Open Soon”: uma coleção de 58 obras de artistas de diferentes gêneros, sexualidades, nacionalidades e disciplinas, foram leiloadas com a arrecadação revertida para o Vagina Museum. você pode ver todas as obras aqui.
. falando em vulvas, cês viram que a Pantone lançou um novo tom de vermelho, chamado ‘Period’? criado em parceria com a marca Intimina, o objetivo é abrir conversas em torno da menstruação, assunto que ainda é tabu pra muita gente.
. a seleção de 35 artistas do 'The Artsy Vanguard 2020', lista anual do Artsy com os artistas que estão moldando o futuro da arte contemporânea, levando em conta os profissionais que além de estarem na vanguarda da arte contemporânea, também estão moldando o futuro através do envolvimento com questões sociais e políticas.
o brasileiro Maxwell Alexandre está entre os 35 artistas selecionados.
Maxwell Alexandre, Se eu fosse vocês olhava pra mim de novo (2018)
pra assistir ⦙
. fiquei meio hipnotizada com o último desfile da Prada. foi a estreia do estilista Raf Simons como codiretor de criação da marca e pelo que eu estava lendo, esse era o desfile mais aguardado dessa temporada. acho demais que, por conta da pandemia, todo mundo tem acesso aos desfiles no mesmo formato (virtual). não sou ligada nas semanas de moda mas achei que valeu como inspiração, trilha sonora muito doida, coleção chiquérrima, etc. o desfile dura pouco mais de 13 minutos e depois rola um papo entre Raf e Miuccia Prada, que hoje dividem a direção criativa da marca.
. o 2o desfile da Savage X Fenty, marca de lingerie da Rihanna, disponível na Amazon Prime Video.
. o documentário “John à procura de aliens”, disponível na Netflix. são 16 minutos de pura sensibilidade, com direito à um plot twist que é um abraço no coração.
. o “Festival Nexo + Nexo Políticas Públicas: o Brasil em debate” tá rolando durante todo o mês de outubro, um evento em que os temas mais importantes da agenda pública do país serão abordados e debatidos.
pra ler ⦙
. entrevista maravilhosa com Rita Lee.
. entrevista maravilhosa com Chico César.
. texto poderoso da Clara Caldeira sobre Virginia Woolf, sexualidade fluida e pensamento livre.
umas frases que anotei no bloco de notas ⦙
“A vida é vários agora.”
. foi o que a Luli me disse quando contei que me sentia muito bem hoje, mas morria de medo de sofrer amanhã. essa frase tá na minha cabeça desde então, um jeito muito mais legal de falar pra viver no presente, né não?!
“O melhor lugar que posso estar é dentro de mim.”
. da peça virtual PÓS F, com texto da Fernanda Young, baseado no livro dela, direção da Mika Lins e atuação da Maria Ribeiro.
“Nem sempre, nem nunca; felicidade é epifania.”
. resposta do Mario Sergio Cortella no questionário da Gama, pra pergunta “Quando e onde você foi mais feliz na vida?”
"A gente sempre vai estar entre 'não saber nada' e 'não saber tudo'."
. da newsletter da Cristal Muniz.
Prince Gyasi, Woman (2020)
obrigada por ler o Confusa, nos vemos na próxima edição. 😙