quando foi que todo mundo ficou igual? ⦙
cês já viram o @shitbloggerspost? uma pessoa anônima é responsável por identificar tendências estéticas de influenciadoras no Instagram, seja uma pose, peça de roupa, paisagem ou qualquer outro elemento das fotos e agrupar todo mundo igualzinho em postagens carrossel.
quando foi que todo mundo ficou igual?
é meio paradoxal — queremos ser autênticas/diferentes/nós mesmas, mas ao mesmo tempo queremos ser iguais a quem nos inspira.
esse assunto, autenticidade ou ser você mesma, apareceu bastante pra mim nos últimos dias. uma das coisas mais legais que vi foi o Bom dia, Obvious #58, onde a Marcela Ceribelli conversa com o André Alves e a Fernanda Paes Leme, numa discussão que sai daquele lugar óbvio, que eu particularmente caio facilmente, de pensar que a imagem que construímos nas redes sociais é uma grande viagem mentirosa e egocêntrica, por mais que eu também esteja desempenhando algum papel nelas.
no podcast, André traz pontos maravilhosos, lembrando que a gente desempenha diferentes papeis em diferentes situações da nossa vida, não apenas na online. não dá pra ser todas suas versões, tudo que se é, no seu perfil do Instagram, e tá tudo bem. a versão que você tá construindo naquele espaço é de alguma forma real.
num outro ângulo do mesmo assunto, uma matéria da Elle, “Os filtros do Instagram estão mudando a nossa aparência na vida real?”, que fala sobre como alguns filtros podem trazer riscos pra nossa saúde mental e física, além de deixar todo mundo igual.
pra fechar o tema, quero compartilhar um texto do poeta E.E. Cummings sobre a coragem de sermos nós mesmos, que encontrei num artigo da Maria Popova, escritora norte-americana, responsável pelo Brain Pickings, onde escreve sobre literatura, arte e cultura.
“Quase qualquer pessoa pode aprender a pensar, acreditar ou saber, mas nenhum ser humano pode ser ensinado a sentir. Por quê? Porque sempre que você pensa ou acredita ou sabe, você é uma junção de várias outras pessoas. Mas no momento que você sente, você não é ninguém além de si mesmo.
Ser ninguém além de você mesmo - num mundo que faz o melhor, dia e noite, para fazer de você todos os outros - significa travar a batalha mais dura que qualquer ser humano pode travar. Nunca pare de lutar.”
vamos nos encaixando em nós mesmas, cada dia um pouco mais.
pra ouvir ⦙
. eu tô bem viciadinha no Burna Boy, por isso, o Tiny Desk Concert dele:
. um amigo me contou que o Fela Kuti é o criador do ritmo afrobeat e a principal referência do Burna Boy. também tô ouvindo bastante e numa pesquisa rápida sobre a história do Fela, descobri que além de um dos músicos mais importantes da história da Nigéria e da África como um todo, ele também foi um grande ativista político, que lutou intensamente pelos direitos humanos em seu país. fiquei bem curiosa pra saber mais e o documentário Meu Amigo Fela está na minha lista de coisas para assistir.
. saindo do afrobeat, uma plataforma que reune sons de florestas ao redor do mundo, se você tem interesse em conhecer a sonoridade de uma mata em Madagascar, por exemplo.
. uma outra boa ideia é parar pra ouvir nosso silêncio mesmo. ;)
pra ler e ver ⦙
Robert Mapplethorpe, Lisa Lyon (1980)
. fiquei um bom tempo viajando nas fotos do Robert Mapplethorpe depois de finalizar o livro Só Garotos, da Patti Smith, que é uma mistura de autobiografia, com a história de amor entre Patti e Robert e um retrato interno da cultura punk de Nova York do fim dos anos 60 e início dos 70.
Patti e Robert se uniram pelo amor à arte, se fundiam num constante esforço de expressão e criação. eu vejo uma beleza gigante na aceitação da transformação do amor entre os dois. eles eram conectados de uma forma tão genuína, que continuaram sendo fortaleza um para o outro até o fim. quando a gente chega no fim do livro chorando, vale a pena indicar.
. falando em Nova York dos anos 70, aqui está uma seleção de cinco filmes - documentais e de ficção - para entender como a cidade era diferente 30 ou 40 anos atrás.
. também li nos últimos dias Ideias para adiar o fim do mundo, de Ailton Krenak. nessa entrevista à revista Cult, Ailton conta um pouco da visão do livro. separei um trecho, mas faça esse favor a si mesma e leia a entrevista completa - e o livro também, é claro.
“O pensamento vazio dos brancos não consegue conviver com a ideia de viver à toa no mundo. Acham que o trabalho é a razão da existência deles. Eles escravizaram tanto os outros que agora precisam escravizar a si mesmos. Não podem parar, experimentar a vida como um dom e o mundo como um lugar maravilhoso. O possível mundo que a gente pode compartilhar não tem que ser um inferno, ele pode ser um lugar bom. E o que estamos vivendo no Brasil nos últimos anos é uma espécie de surto capitalista, como uma metástase num organismo que adoeceu. Um organismo que não consegue buscar água pra beber, uma medicina saudável; então come mais veneno, produzindo uma agricultura cada vez mais drogada. Essa espécie de metástase do pensamento do branco sobre a Terra é o maior engano.
Atuar no mundo para a vida continuar existindo, não como uma reprodução material da vida, mas como uma continuação da experiência mágica de existir. Em vez de afirmar “Penso, logo existo”, mudar a frase para “Eu estou existindo”. Resistindo. É pra isso que a gente foi feito.”
o último livro de Krenak é o A vida não é útil, com suas reflexões sobre a pandemia e as tendências destrutivas da chamada "civilização": consumismo desenfreado, devastação ambiental e uma visão estreita e excludente do que é a humanidade.
. lembrando que nosso Pantanal “está pegando fogo em proporções não antes vistas nos últimos 47 anos, a região do pantanal mato-grossense sofre com queimadas que já fizeram arder 12% de sua extensão”. imagens aqui.
. essa matéria do Nexo explica as queimadas na Amazônia em 10 pontos.
. e a notícia sobre a possibilidade da existência de organismos vivos nas nuvens de Vênus? cientistas detectaram fosfina na atmosfera do planeta, uma molécula que na Terra é associada à matéria orgânica/biológica. aqui a matéria completa da BCC pra entender os detalhes. (em inglês)
. tô pra assistir 2 coisas no Netflix: ‘Estou Pensando em Acabar com Tudo’, e ‘The Social Dilemma’. alguém aí já viu?
uns perfis no Instagram ⦙
. eu amo o @estarmorta, da artista Bruna Maia. sério, é perfeito:
. outro perfil genial é o @nicsigni_writes, onde a escritora Nicole Tersigni cria memes a partir de pinturas antigas ao inserir frases de homens fazendo o famoso mansplaining:
a brincadeira rendeu o livro ‘Men to Avoid in Art and Life’, você pode saber sobre mais nessa matéria do Artnet. (em inglês)
. @ablackhistoryofart, uma conta que destaca artistas, curadores e pensadores negros, aqueles que ‘esqueceram’ de nos apresentar nas aulas de História da Arte. tem uma entrevista que o The Gallyry fez com a criadora do perfil, Alayo Akinkugbe. (em inglês)
Malick Sidibé, Dansez le twist (1965)
. a Monique Evelle, que é empreendedora, ativista de direitos humanos, criadora do Desabafo Social (laboratório de tecnologias sociais aplicadas à educação, comunicação e geração de renda), do Inventivos (comunidade de criativos, ativistas e empreendedores focada em desenvolvimento pessoal e profissional) e mais um monte de outras coisas. ela a gente não segue só no Instagram, né?! aqui uma entrevista da Revista Gama com Monique.
. pra quem faz yoga ou quer começar a fazer, eu indico demais o perfil do Marcus Rojo, que faz lives para práticas coletivas todas terças e quintas às 8 de manhã. essa dica preciosa veio da minha amiga Julia.
por hoje é isso, pessoal.
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