notas sobre observar pessoas ⦙
dia desses acompanhei Vitor numa festa — ele foi fazer um trampo de VJ e eu não perderia a oportunidade de observar um rolê acontecendo de longe.
nos acomodamos num lugar escondidinho, acima da pista. enquanto animações se tornavam projeções, eu imaginava intenções: essa veio pelo som, aquele pra massagear o ego (o próprio ou o alheio?), talvez pra chapar ou beijar ou encontrar alguém pra levar pra casa.
um deleite. prestar atenção no mundo é dos fazeres preferidos da vida. cê fica ali no momento que existe e só.
acontece que observar sem ser observada ativou meu julgamento num grau! como se estivesse assistindo reality que de tão ruim é bom, aquela mistura de satisfação com vergonha alheia. não me orgulho, que fique claro.
uma mina que chegou sozinha foi meu primeiro alvo, dançou, andou pra lá e pra cá, paquerou, fez charme, bebeu drinks — e eu espiei, bem da curiosa. depois de um tempo desacompanhada, era claro que a moça ansiava por companhia, senti o desconforto na pele.
eu senti. o que ela sentiu, nunca saberemos.
uma mulher sozinha no rolê VS eu no meu quadradinho julgando. nenhum sinal de incômodo a não ser o meu.
lembrar daquilo: não depositar nossas próprias loucurinhas em outras pessoas. ora, só porque eu não tenho coragem de fazer o mesmo não quer dizer que qualquer coisa.
cada uma.
sobre análise e linguagem ⦙
Fernanda diz que o Eu é ficcional. na real foi Lacan, mas ela é quem me ensina.
penso que apenas uma ideia de Eu não nos satisfaz, daí a gente inventa. isso de se mutar e se multiplicar serve pra que a gente dê conta da instabilidade que é ser.
ficção é narrativa imaginada, uma ‘representação da realidade’. diria que através dela, podem se criar espaços pra construções de Eus, novas possibilidades de existência(s) que se materializam através da fala, pensamento, escrita, sonho, et cetera. a linguagem permite que a gente crie quantas versões do nós mesmas a gente quiser. permite que a gente encontre novos sentidos.
vejo a escrita como um portal pra criação de si — palavras são mágicas.
"tudo que não invento é falso.”
Manoel de Barros ♡
não existe um sentido pronto em ser. por isso, a necessidade de caber em qualquer pré-concepção (que você — ou alguém — tem sobre você mesma) é zero.
não precisa ser constante e não precisa de explicação. tipo sonho mesmo, só que materializado.
não seremos coisa totalmente nova — algo sempre permanece, é claro. vai ser camada por cima de camada. somos intermináveis.
Fernanda me emprestou um livro, onde Oscar Wilde escreveu assim:
“viver intensamente é ser si mesmo. sentir-se viver é o primeiro passo em direção à perfeição.”
(considerar que Wilde viveu uma vida em busca da perfeição e spoiler: nunca a encontrou.)
mas o ‘sentir-se viver’ sabe, importante. a gente não sente-se vivendo o tempo todo. vai dizer?!
no fim da sessão, a gente se interessa pelo que falta mesmo.
"a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro."
sim, vou citar Clarice pra sempre.
sobre Clarice e metaverso ⦙
Clarice é tipo o metaverso. só que do bem. não tipo o do Zuch.
as primeiras páginas de ‘paixão segundo gh’ já levam pro mergulho no ‘atrás do pensamento’ desta gênia. (sim, vou escrever gênia porque não faz sentido chamar uma mulher de gênio. gramática, dessa vez você errou.)
é muito ama ou odeia mesmo. até entendo quem não curte e tchau.
ascoisasdaClarice são muito Clarices.
sobre minha amiga Julia ⦙
a Jul é das melhores que tem. ela escolheu compartilhar um escrito com a gente. continuaremos com este privilégio nas próximas edições do Confusa (vamos convencê-la disso, me ajudem).
Julia decidiu largar SP com Breno pra viver esse Brasilzão de nossas deusas. daí que ela — leonina mais taurina que conheço, é o ascendente — ficou sem casa. melhor dizendo: sem a casa que ela conhecia. e foi conhecer outras casas. acredito que outras Julias também. apreciemos uma delas:
- outros jeitos de me sentir em casa -
mesmo que não seja bom o tempo todo, o que é (ou se torna) bom, fica ali - no horizonte dos olhos, na ponta do barco
é também um jeito de dizer que nada pode ser analisado no tempo de uma batida
do coração
leva tempo para se sentir em casao que seria melhor agora do que experimentar?
venho pensando
cada lugar vem com um tema, quase um estado mental
cada espaço é novo e ao passar dos dias é tão conhecidodesafia os ritos, a dinâmica do dia a dia
devolve ar, abre espaçocada canto parece um quando a gente chega e se faz outro quando a gente tá pra ir embora na fotografia mental são dois lugares: lá sem você/lá depois de você
e a gente se imprime em cada parede
nos móveis
no chão
na disposição das coisas
na rotina que vai se desenhando
desenhando
desenhando
até você ver que você já é de casae que a casa é você
como pertencer a espaços que não são seus?
como desfrutar de uma viagem que, apesar de não ter data de volta, é cheia de fins?gosto de rotina, de palavras, rituais e de casa arrumada.
saí de casa de um jeito, 8 meses depois, tô de outro.
sempre quis escrever e agora tô aqui - ensaiei por 4 meses mas como disse uma amiga: "chega de espiar e deixar pra depois".
♡
os linkinhu ⦙
. o mundo é uma grande brisa. sério.
. cês viram as 8 horas dos Beatles em estúdio? tudin pra mim. 15 lições sobre criatividade (e sobre vida) a partir do doc. (em inglês)
. daí teve Brasil Jazz Sinfônica com Gilberto Gil na Sala São Paulo. queria ter visto ao vivo mas vale assim também.
. naninhas e descansos, pausas e sosseguinhos. (em inglês)
. Luli sobre caminhos para a construção de uma nova visão de mundo:
“É tarefa de todos que estão aqui e agora desenhar – ou seja, fazer o design – de uma nova visão de mundo, que flua de uma nova consciência e de novos valores e seja capaz de gerar novas intenções que informem o que, como e por quê moldamos nossa existência: sistemas, interações, relações, estruturas físicas e simbólicas, processos, objetos.”
leia também:
notas sobre sontag ⦙
sobre a poesia da desordem ⦙
sobre sonhos ⦙
obrigada por ler,
Jess.
♡